domingo, 17 de abril de 2016

Especificidades da Didática do Português no que diz respeito aos seus princípios e metodologias.

Aluna: Soraia Naves Martins Moreira
Número de aluno: 1501341
Unidade Curricular: Seminário de Prática Pedagógica (200 – Português, Estudos Sociais e História)
Curso: Curso de Profissionalização em Serviço
Data: 17 de abril de 2016

A didática do Português, ao reunir a vertente pedagógica, científica e metodológica, procura fornecer ao professor capacidades de reflexão e posterior reformulação sobre a sua prática pedagógica. O principal objetivo, em termos pedagógicos, que se procura atingir na aula de Língua Portuguesa é que os alunos adquiram, no final de cada ciclo de ensino, os conhecimentos e atitudes estabelecidos pelo professor e instituição de ensino. A didática enfatiza, sobretudo, o como ensinar, mais do que deverá ser transmitido aos alunos, de forma a promover o seu sucesso escolar. O vídeo seguinte ilustra um pouco o conceito de didática:




O professor de Língua Portuguesa tem diante de si o desafio de proporcionar o estudo da língua materna a alunos falantes dessa mesma língua, o que lhe exige pensar e repensar cuidadosamente o seu trabalho, bem como ter em linha de conta as competências linguística, sociolinguística e pragmática dos aprendentes. O professor deverá privilegiar a influência do contexto e a relação entre os interlocutores, “o que torna a competência pragmática a primeira no sistema de relações humanas.” (Reis & Adragão, 1989, p.15). Não deverá reduzir as aulas de língua materna ao mero estudo da gramática, à análise, à história da língua ou da literatura. O docente de Língua Portuguesa deve, por isso, planificar o seu trabalho de um modo consistente e original, para que o aluno tenha a possibilidade de evoluir no desempenho da língua e tenha sucesso nessa tarefa.
No centro do processo de ensino-aprendizagem encontra-se o aluno “O aprendente é mais importante do que a matéria que se ensina.” (Reis & Adragão, 1989, p.15). Como falante nativo, o aluno tem competências já adquiridas e, igualmente, necessidades específicas de aprendizagem. Aprende de um modo contínuo, “por consolidação e não por colagem de informações” (Reis & Adragão, 1989, p.15). Ele desempenha papel ativo na construção das suas aprendizagens. Assim sendo, a metodologia de ensino a ser utilizada deverá ser específica para o conjunto de alunos a que se destina pois a língua é aspeto comum a todos os falantes, o que requer a utilização de estratégias diferentes, dependendo do estatuto de cada falante e do contexto onde se insere. 
            Na verdade, o ensino da língua materna deverá ter em consideração a diversidade de níveis e registos que a língua possui. Dever-se-ão respeitar as produções dos alunos e ensiná-los a utilizar os registos adequados de acordo com as situações de comunicação, ou seja, os interlocutores, a situação e o tema. A competência da comunicação deve, por isso, prevalecer sobre a competência linguística porque importa ensinar a gramática, mas tem sempre primazia a aceitabilidade de uma produção. “Há diferentes níveis de necessidade de correção gramatical e a verdade é que esta, só por si, nunca é suficiente para uma boa comunicação.” (Reis & Adragão, 1989, p.16)
Uma das finalidades do ensino do português apontada pela Comissão para a Reforma do Ensino na Proposta de Programa apontada por Reis e Adragão (1989, p.16) é “promover a estruturação individual através do domínio dos instrumentos verbais que exprimem conceitos de espaço, de tempo, de quantidade, ou que permitem estabelecer relações lógicas, descrever, interpretar e valorizar”. Nesse sentido, apresenta-se parte da apresentação do estudo "Literatura e ensino do Português" onde fica clara a importância do estudo da língua como ferramenta transversal a qualquer área do saber.



Relativamente aos conteúdos de Língua Portuguesa, Reis e Adragão (1989) defendem que estes não se adaptam a uma compartimentação por anos de escolaridade de acordo com critérios institucionais estabelecidos, isto porque se deve ter em consideração que o objeto de ensino, a língua, é já utilizado pelo aprendente no seu dia-a-dia. Por outro lado, a consonância entre os doze anos de escolaridade e a idade dos alunos é uma situação que poderá não ocorrer, e haver assim um desfasamento, só colmatado com o trabalho do professor, que deverá focar-se no desenvolvimento da competência comunicativa dos alunos com os quais vai trabalhar. Reis e Adragão (1989, p. 18) afirmam que é “tarefa primordial do professor a atenção constante ao programa proposto pelo Ministério da Educação (e não necessariamente ao conteúdo das gramáticas e das antologias que se editam) e às características e necessidades dos seus alunos.”
Uma vez que os conteúdos da disciplina se foram alterando ao longo dos tempos, pode ser pertinente fazer em seguida uma análise do programa atualmente em vigor (Programa e metas curriculares de português do ensino básico, de Buescu, Morais, Rocha, & Magalhães, 2015), assim como do documento Metas curriculares de português: ensino básico 1.º, 2.º e 3.º ciclos, de Buescu, Morais, Rocha, e Magalhães (2012), que o precedeu e clarificava alguns dos aspetos que o professor de língua materna deveria ter em atenção, uma vez que as Metas Curriculares foram criadas para utilização em conjunto com os programas. Buescu et al. (2015) apresentam, para o primeiro e segundo ciclos, quatro domínios de referência, a Oralidade, a Leitura/ Escrita, a Educação Literária e a Gramática. Para o domínio da Educação Literária é apresentado um conjunto de obras e textos literários de referência para leitura e análise, organizado por cada um dos anos de escolaridade. Há uma notória preocupação relativamente à promoção da leitura, uma vez que as obras literárias permitem veicular tradições e valores. O vídeo que se segue, novamente retirado da apresentação do estudo "Literatura e ensino do Português", veicula uma opinião sobre a importância do texto literário no ensino da língua materna:




No que respeita ao domínio da Oralidade está contemplada a compreensão e expressão oral de modo conjunto, pois são dois domínios interligados entre si. Relativamente ao domínio da Gramática, é fundamental que o aluno “adquira e desenvolva a capacidade para sistematizar unidades, regras e processos gramaticais da nossa língua, de modo a fazer um uso sustentado do português padrão nas diversas situações da Oralidade, da Leitura e da Escrita”. (Buescu et al., 2012, p.6) Neste sentido, a Gramática é um domínio fundamental para o seu bom desempenho na disciplina de Português. Contudo, o ensino da Gramática deve ser articulado com atividades respeitantes à consecução dos objetivos dos restantes domínios, a Leitura/Escrita, a Oralidade e a Educação Literária (Buescu et al., 2015). Ao docente da disciplina de Português cabe, de uma forma muito objetiva, o ensino formal de cada um dos referidos domínios para que o aluno alcance uma sólida aprendizagem em cada ano de escolaridade, mas adequando-os dentro do possível às particularidades dos seus alunos, como defendem Reis e Adragão (1989), pois é parte do papel do professor, não só de Língua Portuguesa mas de qualquer disciplina, adequar da melhor forma possível a sua prática letiva às características dos seus alunos.

Bibliografia


Buescu, H. C, Morais, J., Rocha, M. R., & Magalhães, V. F. (2012). Metas curriculares de português: ensino básico 1.º, 2.º e 3.º ciclos. Lisboa: Ministério da Educação e Ciência.
Buescu, H. C., Morais, J., Rocha, M. R., & Magalhães, V. F.  (2015) Programa e metas curriculares de português do ensino básico. Lisboa: Ministério da Educação e Ciência.
Reis, C., & Adragão, J. (1989). Didáctica do Português. Lisboa: Universidade Aberta.