O professor é peça determinante na consecução do
currículo, mas este segundo terá mais valor quando “centrado na iniciativa da
escola” (Zabalza, 1994, p. 1). “A escola é a unidade
social, funcional e organizativa de referência na programação. O professor é a
unidade operativa.” (Zabalza, 1994, p. 1) O cumprimento da programação deve ser
encarado ao nível de escola e não somente ao nível de cada docente. Segundo
Zabalza (1994, p. 1), “a programação tem que ser pensada mais em termos de escola, de
comunidade escolar, de equipa de professores, etc., do que em termos do
professor singular.” Só desta forma se poderão implementar
e enraizar novas perspetivas educativas.
A escola define as linhas gerais que adaptam o
Programa ao contexto social, institucional e pessoal, definindo as prioridades.
O professor, por seu lado, faz a síntese entre o Programa, a Programação
escolar e o contexto da aula e os conteúdos específicos da disciplina. De
acordo com Zabalza (1994, p. 1), “Há nesta tomada de posição uma reconsideração da ideia
tradicional de professor, ideia que continua a prevalecer, apesar de tudo, na
prática: o professor como executor das prescrições e orientações dadas no
Programa pelas competentes hierarquias da administração educativa.”A este propósito, no vídeo que se segue, Denis Mizne, diretor executivo da Fundação Lemann, do Brasil, comenta a importância de inovar as técnicas didáticas dos professores.
A planificação didática pode apresentar duas aceções
distintas. Uma poderá partir de processos psicológicos nos quais o docente
reflete sobre os fins e os meios da sua ação, construindo um marco de
referência. Outra poderá estar centrada na “sucessão de condutas, nos passos
que se vão dando” (Zabalza, 1994, p. 2). As duas aceções estão, porém, presentes
no trabalho de planificação didática.
A necessidade de realizar uma planificação poderá justificar-se por três motivos: em primeiro lugar, para que os professores tenham uma melhor orientação do seu trabalho,
o que se traduz numa maior confiança; em segundo lugar, para melhor organizar os
conteúdos que deverão ser aprendidos, quais os recursos a utilizar e gestão de
tempo; por último, como estratégia de ação durante o ensino, ou seja, em aula, traçar
a melhor forma de organizar os alunos, quais as atividades que serão escolhidas
e o processo de avaliação. No processo de planificação didática, são mediadores
de ensino: os manuais, os materiais comerciais disponíveis pelas editoras,
guias curriculares, cursos de aperfeiçoamento e revistas.
Planificar, segundo Zabalza (1994, p. 5), é “traduzir uma relação
com o programa e portanto com o currículo e, por outro lado, com
as condições e características do contexto de aprendizagem.” A planificação define os objetivos de aprendizagem, as prioridades
estabelecidas no currículo, e os meios para concretizá-los. No entanto, parte
sempre da relação que o docente estabelece com os objetivos e a apropriação dos
programas, bem como tem em conta o nível de motivação dos alunos, os manuais, o
tempo, entre outros aspetos.
Os planos de aula são bastante pessoais, pois é a
leitura pessoal de determinado professor para lecionar uma unidade específica
do programa. Um mesmo plano pode não funcionar com todos os professores e/ou turmas, o que reforça
a necessidade de cada docente encontrar o modelo mais adequado, tendo em
conta as especificidades do contexto onde vai operar. A planificação é, segundo
Zabalza (1994), um elemento necessário para o sucesso do ensino mas deve rejeitar-se a
planificação rígida dos conteúdos: “a melhor planificação é aquela que se
auto-planifica continuamente, que se auto recria no interior da própria aula” (Zabalza,
1994, p. 6). A planificação exige, por isso, flexibilidade, abertura, criatividade, espontaneidade
e, acima de tudo, trabalho e esforço do professor para encontrar as melhores
soluções, de acordo com cada situação de aprendizagem. Assim, as principais
características da planificação são coerência, adequação, flexibilidade,
continuidade, precisão, clareza e riqueza. Esta deve contemplar objetivos,
conteúdos, estratégias, recursos, intervenientes, materiais, lugar, tempo,
avaliação, mas, acima de tudo, deve procurar responder a questões como: “Que
pretendo alcançar com o meu ensino, ou que objectivos gerais lhe estão
subjacentes? Que pretendo alcançar com o ensino destes conteúdos? Que
conheço eu destes conteúdos? Que têm a ver comigo estes conteúdos? Como
articular logicamente a sua apresentação? Como apresentar estes conteúdos de
forma acessível aos alunos, e articulando-os com a sua experiência e seus
interesses? Como problematizar estes conteúdos? Que materiais utilizar?, Como
vou utilizá-los? Que procedimentos (estratégias) didácticos? Como articular
as diversas variáveis em jogo? Que dificuldades se vão deparar na execução?” (Zabalza,
1994, pp. 6-7)
Em suma, planificar é refletir sobre uma situação de
ensino-aprendizagem e torná-la efetiva, real, para um conjunto de alunos com
caraterísticas específicas e objetivos diferenciados no que toca à visão que estes têm da escola e da educação. A planificação, como ilustra o pequeno exemplo que se segue, é fundamental para qualquer atividade.
Bibliografia
Zabalza,
M. (1994). Planificação e Desenvolvimento
Curricular na Escola. Porto: Ed. ASA.
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