domingo, 15 de maio de 2016

A escola como cenário de operações didáticas - Miguel Zabalza, Planificação e Desenvolvimento Curricular na Escola, Ed. ASA, Porto, 1994

O professor é peça determinante na consecução do currículo, mas este segundo terá mais valor quando “centrado na iniciativa da escola” (Zabalza, 1994, p. 1). “A escola é a unidade social, funcional e organizativa de referência na programação. O professor é a unidade operativa.” (Zabalza, 1994, p. 1) O cumprimento da programação deve ser encarado ao nível de escola e não somente ao nível de cada docente. Segundo Zabalza (1994, p. 1), “a programação tem que ser pensada mais em termos de escola, de comunidade escolar, de equipa de professores, etc., do que em termos do professor singular.” Só desta forma se poderão implementar e enraizar novas perspetivas educativas.
A escola define as linhas gerais que adaptam o Programa ao contexto social, institucional e pessoal, definindo as prioridades. O professor, por seu lado, faz a síntese entre o Programa, a Programação escolar e o contexto da aula e os conteúdos específicos da disciplina. De acordo com Zabalza (1994, p. 1), “Há nesta tomada de posição uma reconsideração da ideia tradicional de professor, ideia que continua a prevalecer, apesar de tudo, na prática: o professor como executor das prescrições e orientações dadas no Programa pelas competentes hierarquias da administração educativa.”A este propósito, no vídeo que se segue, Denis Mizne, diretor executivo da Fundação Lemann, do Brasil, comenta a importância de inovar as técnicas didáticas dos professores.



A planificação didática pode apresentar duas aceções distintas. Uma poderá partir de processos psicológicos nos quais o docente reflete sobre os fins e os meios da sua ação, construindo um marco de referência. Outra poderá estar centrada na “sucessão de condutas, nos passos que se vão dando” (Zabalza, 1994, p. 2). As duas aceções estão, porém, presentes no trabalho de planificação didática.
A necessidade de realizar uma planificação poderá justificar-se por três motivos: em primeiro lugar, para que os professores tenham uma melhor orientação do seu trabalho, o que se traduz numa maior confiança; em segundo lugar, para melhor organizar os conteúdos que deverão ser aprendidos, quais os recursos a utilizar e gestão de tempo; por último, como estratégia de ação durante o ensino, ou seja, em aula, traçar a melhor forma de organizar os alunos, quais as atividades que serão escolhidas e o processo de avaliação. No processo de planificação didática, são mediadores de ensino: os manuais, os materiais comerciais disponíveis pelas editoras, guias curriculares, cursos de aperfeiçoamento e revistas.



Planificar, segundo Zabalza (1994, p. 5), é “traduzir uma relação com o programa e portanto com o currículo e, por outro lado, com as condições e características do contexto de aprendizagem.” A planificação define os objetivos de aprendizagem, as prioridades estabelecidas no currículo, e os meios para concretizá-los. No entanto, parte sempre da relação que o docente estabelece com os objetivos e a apropriação dos programas, bem como tem em conta o nível de motivação dos alunos, os manuais, o tempo, entre outros aspetos.
Os planos de aula são bastante pessoais, pois é a leitura pessoal de determinado professor para lecionar uma unidade específica do programa. Um mesmo plano pode não funcionar com todos os professores e/ou turmas, o que reforça a necessidade de cada docente encontrar o modelo mais adequado, tendo em conta as especificidades do contexto onde vai operar. A planificação é, segundo Zabalza (1994), um elemento necessário para o sucesso do ensino mas deve rejeitar-se a planificação rígida dos conteúdos: “a melhor planificação é aquela que se auto-planifica continuamente, que se auto recria no interior da própria aula” (Zabalza, 1994, p. 6). A planificação exige, por isso, flexibilidade, abertura, criatividade, espontaneidade e, acima de tudo, trabalho e esforço do professor para encontrar as melhores soluções, de acordo com cada situação de aprendizagem. Assim, as principais características da planificação são coerência, adequação, flexibilidade, continuidade, precisão, clareza e riqueza. Esta deve contemplar objetivos, conteúdos, estratégias, recursos, intervenientes, materiais, lugar, tempo, avaliação, mas, acima de tudo, deve procurar responder a questões como: “Que pretendo alcançar com o meu ensino, ou que objectivos gerais lhe estão subjacentes? Que pretendo alcançar com o ensino destes conteúdos? Que conheço eu destes conteúdos? Que têm a ver comigo estes conteúdos? Como articular logicamente a sua apresentação? Como apresentar estes conteúdos de forma acessível aos alunos, e articulando-os com a sua experiência e seus interesses? Como problematizar estes conteúdos? Que materiais utilizar?, Como vou utilizá-los? Que procedimentos (estratégias) didácticos? Como articular as diversas variáveis em jogo? Que dificuldades se vão deparar na execução?” (Zabalza, 1994, pp. 6-7)
Em suma, planificar é refletir sobre uma situação de ensino-aprendizagem e torná-la efetiva, real, para um conjunto de alunos com caraterísticas específicas e objetivos diferenciados no que toca à visão que estes têm da escola e da educação. A planificação, como ilustra o pequeno exemplo que se segue, é fundamental para qualquer atividade.


Bibliografia

Zabalza, M. (1994). Planificação e Desenvolvimento Curricular na Escola. Porto: Ed. ASA.

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