domingo, 15 de maio de 2016

Maria Cândida Proença, Didáctica da História, Lisboa, Universidade Aberta, 1989, p. 26-31.

O discurso historiográfico não é permanente, por isso o docente de História deve prestar atenção à evolução do pensamento histórico e produção historiográfica, para que a sua abordagem seja verdadeira e genuína.
Na herança da Grécia Clássica, até ao século V, projetavam-se os mitos do passado no presente para explicar a realidade. A partir dos séculos III e IV, o nascimento da cidade democrática e as transformações económicas, sociais e políticas ocorridas na Grécia modificaram a mentalidade grega. Na Grécia Clássica, Heródoto e Tucídedes são os fundadores da História. Tucídedes faz a narração da guerra do Peloponeso com uma maior objetividade, afastando-se dos relatos de cariz maravilhoso.
Seguem-se os contributos cristãos e árabes no desenvolvimento do pensamento histórico. O Cristianismo, com a datação dos acontecimentos da vida de Jesus, apresenta uma noção de tempo contínua e irreversível e a Providência é “motor da evolução” (Proença, 1989, p. 27). Ibn Khaldum, do mundo árabe, legou-nos uma análise das estruturas dos grupos sociais e relação de vários domínios da realidade, como a demografia, economia e geografia. Na Idade Média, desenvolveram-se as crónicas, como testemunhos escritos do passado. Salienta-se, em Portugal, o cronista Fernão Lopes.



Com o Renascimento, desenvolveu-se o espírito crítico, tendo sido tecidas críticas à sociedade de então. Erasmo e Montaigne criticam os excessos da pedagogia da Idade Média. O Renascimento ficou igualmente marcado pela tentativa de explicar o crescimento do custo de vida no século XVI. Jean Bodin fez várias observações e críticas sobre moedas e preços. Assim, o século XVI foi um importante século relativamente ao aparecimento do conhecimento científico em História.
No século XVII, os protestantes rebelaram-se contra as crenças católicas e criticaram as suas tradições. Na Inglaterra surgiram ensaios sobre demografia histórica, sobre a avaliação do produto nacional e trabalhos sobre estatísticas políticas. No século XVIII, a História deu um passo substancial, pois não se limitava à narração da vida dos reis ou das guerras, alargava-se a investigação histórica à sociedade e população, através da razão e dos factos. No século XVIII, a Revolução Francesa veio alastrar por toda a Europa ideias revolucionárias, deu-se a queda de antigas instituições e mudanças no campo político, económico, social, cultural e mental. Na segunda metade deste século, triunfa a História científica, com a influência do positivismo que a afasta da Filosofia da História. Desenvolveram-se disciplinas como a História Económica, a História Política, a História das Civilizações.



O século XX é o século por excelência da renovação do conhecimento histórico. Um grupo de historiadores, dos quais fazem parte Lucien Fevbre e Marc Bloch, empreendem um conjunto de mudanças, das quais se destacam: o interesse pela história total, ou seja, o passado mais longínquo e o presente; a história-problemas dá lugar à história narrativa; amplia-se o campo documental, pois os testemunhos orais e os gravados vêm juntar-se aos testemunhos escritos, iconográficos ou arqueológicos; ultrapassa-se a ideia da unilinearidade da evolução da História, passando-se a privilegiar os conflitos e “fenómenos de antecipação ou de persistência que pontuam ou estruturam essa evolução” (Proença, 1989, p. 30); torna-se frequente a interdisciplinaridade da História com outras disciplinas, como a Geografia, Sociologia, Antropologia, Etnologia, Psicologia, Linguística e Informática, entre outras, como se ilustra em seguida:



Por último, passa a haver a tendência para a valorização não só da testemunha, como do seu conteúdo e também “condições de produção do testemunho” (Proença, 1989, p.30), trabalho a cargo do historiador.

Bibliografia


Proença, C. (1989). Didáctica da História. Lisboa: Universidade Aberta.

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