domingo, 15 de maio de 2016

Sobre o uso de tecnologia nas aulas – Blended Learning e o TPACK

Na atual sociedade em rede, as comunidades virtuais, as novas formas de comunicação, os meios audiovisuais, próprios de uma cultura digital de massas geraram um novo perfil de aluno, muito familiarizado com as TIC e dotado de várias competências tecnológicas. Como referem os autores Silva e Cilento (2014, p. 103) “Imersos nesse e desenvoltos nesse cenário, os aprendizes são capazes de, ao mesmo tempo, assistir a um vídeo, enviar uma mensagem de texto para diferentes usuários e conversar em tempo real.” Para além disso, os autores referem que eles gostam de experimentar jogos, participar em redes sociais, visitar blogues e sites, falar através de chats. Este é o mundo dos nossos alunos, o mundo digital. É aqui que passam a maior parte do seu tempo, em particular nas redes sociais, utilizadas pela quase totalidade dos jovens, tal como referem Miranda et. al. (2014) em relação aos estudantes universitários. Daí que, cada vez mais, não encontrem o seu lugar num modelo de ensino tradicional expositivo e unidirecional. A comunicação virtual e a partilha de experiências e informação fazem parte do seu quotidiano. Assim, é vital desconstruir a divisão operada pelas TIC entre o mundo do professor e o mundo do aluno. A formação de professores necessita “conceber uma ‘nova’ didática para a docência na web social que deve basear-se não só no conhecimento científico, curricular e pedagógico, mas também num conhecimento tecnológico que permita planear, conceber e utilizar as tecnologias no processo de ensino-aprendizagem.” (Moreira, Barros & Monteiro, 2014, p. 73).



Os processos pedagógicos a implementar terão necessariamente de ser dinâmicos, flexíveis, abertos e criativos para que a aprendizagem se faça em rede e o aluno se posicione neste novo mundo virtual. Moreira, Barros e Monteiro (2014) apontam o modelo TPACK como o mais adequado para a eficaz integração das tecnologias no processo de ensino-aprendizagem.

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Este modelo, defendem os autores, pode ser seguido na formação de docentes, e está organizado a partir da interligação, não só do conhecimento científico do professor sobre o conteúdo, mas também do conhecimento pedagógico, os métodos e as práticas de ensino e de aprendizagem, e do conhecimento tecnológico, ou seja, as ferramentas e os recursos tecnológicos. Desta interligação de conhecimentos resultam três novos tipos de conhecimento: o conhecimento pedagógico do conteúdo (PCK), o conhecimento tecnológico do conteúdo (TCK) e o conhecimento tecnológico pedagógico (TPK). Da interseção destes três conhecimentos resulta o conhecimento tecnológico pedagógico do conteúdo, ou seja, o verdadeiro conhecimento que o docente deve procurar integrar no seu processo de ensino. Na verdade, trata-se do saber tecnológico que o docente deve utilizar no seu método pedagógico para promover a construção ativa do conhecimento do aluno, na modalidade de blended (e)learning.
Como salientam Silva e Cilento (2014, p 91). “não basta o professor ter acesso e saber usar computador, tablet e celular conectados à internet, para lecionar na modalidade online.” O docente sem a devida preparação tenta replicar no modelo de ensino online as características do ensino tradicional. Para que tal não venha a suceder, o professor necessita adquirir competências específicas que passam pela construção de uma nova identidade profissional. O seu maior desafio é saber lidar com a dinâmica interativa e hipertextual da Internet. “Para isso, o professor deverá estar inserido no contexto da cultura digital, desenvolvendo atitudes, modos de pensamento e práticas comunicacionais interativas no ciberespaço através de interfaces de autoria e de colaboração como e-mails, wikis, redes sociais, blogs, chats.” (Silva & Cilento, 2014, p. 92)



Estamos, na verdade, diante de uma evolução nos processos de ensino e de aprendizagem que implica varias mudanças: no centro das aprendizagens está o aluno ou grupo de alunos que constroem o seu conhecimento, interagindo com os seus pares e professor, o que implica o maior envolvimento da parte de alunos e professores. O professor abandona, por sua vez, o papel de exclusivo transmissor de informação, segundo o modelo presencial de ensino, para passar a ser mediador do conhecimento, promotor da comunicação e também pesquisador. Da mesma forma, altera-se a relação entre aluno e professor, pois tornam-se parceiros no mesmo processo. Por outro lado, deverá haver uma adaptação de planificações, programas e sistemas de avaliação ao novo ambiente pedagógico. É imperativo repensar práticas educativas, os docentes terão a necessidade de reciclar conhecimentos, mas sobretudo importa mudar mentalidades e permitir a atualização do ensino ao ciberespaço e à cultura digital dominante. Citando Moreira, Monteiro e Januário (2014, p. 27), “assim, perceber como se pode ensinar e aprender, formal ou informalmente, em espaços abertos e de aprendizagem colaborativa, em redes sociais na internet (RSI) é um dos grandes desafios que se colocam a todos os educadores.” Em síntese, a prática profissional do professor assume-se como uma prática interativa. Afinal, ela é construída com base em conhecimentos originários da sua formação escolar, do seu percurso pessoal e existencial e do seu saber social, adquirido a partir da sua relação com outros grupos sociais. Assim, o docente terá agora de desenvolver capacidades acrescidas, tecnológicas, comunicacionais e socioafetivas que lhe permitam interagir, colaborar e participar na dinâmica interativa de construção social de conhecimento.
Existe, com efeito, uma “pedagogia transformadora” (Monteiro, Moreira & Lencastre, 2015, p. 11) no atual processo educativo. Trazer o computador para a sala de aula, para mostrar um vídeo, uma imagem ou exibir aos alunos o seu manual virtual constituem usos de “valor residual” (Monteiro, Moreira & Lencastre, 2015, p. 11) das tecnologias. Assim, compreende-se que “a tecnologia sozinha não muda a prática escolar. Para maximizar os benefícios da inovação tecnológica importa alterar a forma como se pensa a educação.” (Monteiro, Moreira & Lencastre, 2015, p. 8) Para isso, é necessário que os professores sejam formados na dimensão tecnológica tal como o são na pedagógica e científica, seguindo, por exemplo, o modelo TPACK, para que integrem harmoniosamente os três conhecimentos. Não se trata de rejeitar por completo o ensino tradicional, mas antes “redimensionar a ação docente nas modalidades presencial e online.” (Silva & Cilento, 2014, p. 104), aproximando-se do conceito de blended-learning. As potencialidades do ensino online não se esgotam no uso de e-mail, o fórum e chat somente como veículo para distribuir atividades sobre os conteúdos lecionados ou cobrar ao aluno tarefas para avaliação; As potencialidades das TIC são maiores porque em termos pedagógicos procura-se que o aluno aprenda a pensar e a pesquisar para adquirir conhecimentos. Para isso, é vital a mediação do professor que deve ser uma presença (virtual) assídua nas interfaces de e-learning, de modo a estabelecer frequentes comunicações com os seus alunos. Estes sentir-se-ão mais motivados e acompanhados se o professor conseguir criar um ambiente de proximidade entre todos. Só através do estabelecimento de uma comunicação com todos se constrói coletivamente o conhecimento, pelo que o professor necessita despender tempo suficiente para estar online e, acima de tudo, formular problemas “provocando interrogações, coordenando grupos de trabalho, sistematizando experiências e conhecimentos construídos com base no diálogo entre interlocutores.” (Silva & Cilento, 2014, p. 104) O docente deve recorrer ao hipertexto, conjugação de texto com som, imagem, vídeos e mapas, para melhorar a qualidade das aprendizagens dos alunos. Contudo, para deixar de ser uma mera utopia e passar a ser realidade ter-se-ão de operar várias mudanças ao nível da prática docente e a sua formação inicial e no âmbito das políticas educativas: é necessário alterar o sistema de avaliação centrado em testes sumativos e privilegiar a avaliação formativa e contínua dos alunos; a escola necessita de atualização das suas infraestruturas ao nível tecnológico. Acima de tudo, e por parte de todos os agentes educativos, é necessário querer mudar, mas já existem projetos nesse sentido, como no exemplo seguinte:




Bibliografia

Costa, M. E. & Moreira, J. M. (2013). O b-learning e a perceção de competências de aprendizagem em ambientes virtuais no ensino da história. In Revista Científica on-line - Tecnologia, Gestão e Humanismo, 2, (1), 42-55.

Miranda, L., Morais, C, Alves, P. & Dias, P. (2014). Redes sociais na aprendizagem: motivação e utilização dos estudantes do ensino superior. In Moreira, J. A., Barros, D., & Monteiro, A. (2014). Educação a Distância e eLearning na Web Social, 71-93. Santo Tirso: Wh!te Books.

Monteiro, A., Moreira, J. A., & Lencastre, J. A. (2015). Blended (e)Learning na Sociedade Digital. Santo Tirso: Wh!te Books.

Moreira, J. A., Barros, D., & Monteiro, A. (2014). Educação a Distância e eLearning na Web Social. Santo Tirso: Wh!te Books.

Moreira, J. A., Barros, D., & Monteiro, A. (2015). Inovação e Formação na Sociedade Digital: Ambientes Virtuais, Tecnologias e Serious Games. Santo Tirso: Wh!te Books.

Moreira, J. A., & Monteiro, A. (2010). O trabalho pedagógico em cenários presenciais e virtuais no ensino superior. Educação, Formação & Tecnologias, 3(2), 82–94. Recuperado de http://eft.educom.pt

Moreira, J. A. & Monteiro, A. (2015). Formação e ferramentas colaborativas para a docência na web social. In Rev. Diálogo Educ., 15, (45), 379-397.

Moreira, J. A., Monteiro, A. & Januário, S. (2014) Educar na rede social. In Moreira, J. A., Barros, D., & Monteiro, A.. (2014). Educação a Distância e eLearning na Web Social. Santo Tirso: Wh!te Books.

Silva, M. & Cilento, S. (2014) Formação de professores para a docência online no Brasil: considerações sobre um estudo de caso. In Moreira, J. A., Barros, D., & Monteiro, A. (2015). Inovação e Formação na Sociedade Digital: Ambientes Virtuais, Tecnologias e Serious Games, 91-114. Santo Tirso: Wh!te Books.

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